Trabalhar satélites desde uma ilha
tropical, desde o alto de uma montanha ou desde o jardim de tua casa é
fácil e divertido, sempre que tenhas o equipamento adequado e um pouco de
experiência. Anima-te, vamos fazê-lo !!!
Trabalhar satélites desde lugares remotos ou
localizações interessantes é uma gratificante experiência tanto para quem
o faz como para quem realiza o QSO contigo. Trabalhar outras estações enquanto
estas de férias ou em viagem de negócios dá um toque especial à
viagem. Não obstante, há uns
quantos truques que te ajudaram a trabalhar satélites, inclusive nos piores
passos... Para um contacto bem sucedido deves escutar o satélite e ele
deve de te escutar a ti. A maior parte dos colegas que têm problemas a trabalhar
o "pássaro" é porque não o escutam bem. Como, " no espaço, a propagação é sempre
boa ", se escutas o satélite alto e claro, fazer o contacto será uma questão de
acertar a eleição da frequência de subida e em escolher bem o horário. Lembrando
um velho ditado: "Se podes ouvi-lo, poderás trabalhá-lo! "... e isso é
especialmente certo se falamos de satélites.
Alguns radioamadores transmitem
através de satélites que apenas podem escutar. São conhecidos como "Alligators"
(Crocodilos), porque são todos boca e têm pouco ouvido. Para evitar que te
cataloguem como tal, é recomendável que possas escutar o teu próprio sinal
emitido pelo satélite na frequência de downlink. Uma vez que possas ouvir-te a
ti mesmo no downlink, saberás que a coisa funciona em ambas as
direcções.
Nas zonas muito populadas, é
habitual que muitos colegas tentem trabalhar o satélite ao mesmo tempo, o
qual pode tornar-se muito difícil ou quase impossível, a uma estação
portátil que habitualmente usa menos potência. Os fins de semana e dias festivos
requerem um pouco mais de paciência. Trabalhar os passos baixos pelo horizonte
(com poucas estações activas) é o mais recomendável para operadores
portáteis.
Põe à prova as tuas técnicas como
operador de satélites em portáteis usando os "pássaros " mais fáceis: Os que
funcionam como repetidores de FM no espaço (OSCAR
14, OSCAR 27). Por suposto, necessitarás de um software para saber
quando passa cada satélite sobre a tua zona. Há uma multiplicidade de
programas que te facilitam essa missão, na secção de software poderás encontrar
alguns.
TRABALHANDO COM ANTENAS de PORTÁTEIS
Apesar da maior parte das antenas
de portáteis não terem ganho suficiente para escutar o sinal dos satélites,
algumas podem ser úteis em certos passos. Há alguns anos atrás era muito difícil
escutar o OSCAR
27, mas hoje em dia o OSCAR
14 tem sinais bastante mais fortes. As antenas de maior ganho são
melhores, por suposto, e isso significa que quanto mais larga seja a antena do
portátil melhor trabalhará. O AO27 e o UO14 têm downlink em 70cm (UHF) o que
torna a escuta mais difícil. Para escutar estes dois satélites podem-se usar
objectos perto e inclusive a orografia do terreno para uma melhor recepção. Um
dos truques mais estendidos é por o portátil voltado para baixo. Assim, os
sinais reflectidos no solo ajudam a melhorar a escuta. O usar auriculares
permite-nos mover o portátil facilmente, para encontrar a melhor
posição.
Aquilo dito até agora funciona bem
para a recepção, mas transmitir sem um microfone externo será uma tarefa
difícil. O truque de dar a volta ao portátil funciona melhor com os passos
que são de 10 a 30 grados sobre o horizonte. Para os passos mais altos (por cima
da tua cabeça) funciona bem por o portátil a uns poucos centímetros sobre o
tecto do carro.
Se te aborrece a procura, há um procedimento que funciona
perfeitamente com a antena Diamond RH77CA(ou similares): Estaciona o carro
na direcção norte sul com a parte dianteira apontando à direcção por onde
aparecerá o satélite. Ao começar a passagem, põe a antena a uns 20 cms da chapa do carro. Habitualmente
encontrarás ai uma boa reflexão no inicio da
passagem. Quando o satélite alcança
uns 15 grados de elevação, surge um bom ponto entre a chapa do carro e o
pára-brisas. Mantendo o portátil vertical e com o conector de antena à altura do
tecto do carro obtêm-se bons resultados para passos sobre ti e de media
elevação. Chegando ao final da passagem, passa-te para a zona da mala para
encontrar boas reflexões. Esta técnica funciona perfeitamente com o UO14 mas não
tanto com o AO27. Com o UO14 e o AO27, usar antenas "rubber
duck" (antenas que vem com o portátil) é uma desvantagem durante os passos
muito concorridos. Apesar de que o AO27 pode ser trabalhado com apenas 100 mW e
uma antena "rubber duck", o uso de FM faz com que cheguem os sinais mais fortes
e os mais débeis sejam ignorados...
Se tentas trabalhar um satélite
desde tua casa, um hotel ou apartamento, seguramente escutarás o sinal do
satélite com um portátil e a sua antena mas isso não significa que vás ter
êxito. Para melhorar as condições põe-te perto das partes metálicas dos balcões
ou janelas, reflectem melhor o sinal.
TRABALHANDO COM UMA ANTENA "FLECHA"
:
Link à antena : Arrow
II satellite
Com duas antenas ligeiras em um só
boom, a "antena flecha" é perfeita para operar satélites de forma portátil. Para
fabricar uma antena similar por tua conta, terás que montar uma antena directiva
de VHF de 3 elementos e uma de 7 elementos de UHF, com ângulos correctos no
mesmo boom. Embora isso se possa conseguir rapidamente, a facilidade de montagem
da antena "flecha" é o que a torna especialmente útil para portátil.
A
forma ortogonal desta antena não é um problema, mas se o satélite estivesse na
terra e as suas antenas fossem da mesma polaridade, o desenho de directiva
cruzada seria um problema. Como os sinais dos satélites atravessam a ionosfera,
mudam de polaridade devido à Rotação de
Faraday (quando os sinais chegam à terra,
a polarização original já foi mudada. Se os sinais de 2 metros e 70 cms são
da mesma polaridade um ligeiro giro da antena pode ajudar-nos muito).
Com o AO-27, a antena "flecha"
oferece boas condições com os seus 7 elementos, inclusive quando o satélite está
já sobre o horizonte. O UO14 tem um sinal de downlink mais forte, pelo qual os
contactos se fazem mais facilmente. A antena também trabalha com os FO-20 e FO29
embora a operação possa ser mais complexa. O AO10 pode ser trabalhado no seu
perigeo com esta antena, mas por razões de segurança, é recomendável não
sujeitar a antena se operas com mais de 10 W.
Os passos baixos é realmente onde
esta antena oferece a sua maior qualidade. É nestes passos quando se conseguem
os DX mais atractivos e quando há menos colegas trabalhando o satélite. À medida
que o satélite passa pelo horizonte, coloca a antena perto do solo. As
estacionárias (SWR) podem subir, mas assim recorrerás às reflexões do solo e
melhorarás as condições. Esta técnica pode permitir que uma estação no Alasca
possa contactar com as estações no resto dos EUA sem problemas. Se o
terreno é plano, melhor ainda. Os altos de uma montanha têm uma boa orientação
para o horizonte mas não tem boas superfícies reflectoras. Use a
antena que use, é importante observar o terreno que te rodeia e o céu. Veja se
há tempestades. Uma boa regra é: "Se não há nuvens de tempestade, não haverá
raios num raio de 5 kms"... Veja se há linhas da rede eléctrica ou árvores
perto. As torres eléctricas tendem a interferir e podem ser perigosas. Veja
também se há antenas sobre as montanhas ou edifícios próximos. Finalmente, olha
para o céu e traça mentalmente o trajecto que seguirá o satélite. Com uns poucos
preparativos, inclusive em plena cidade, poderás ter visibilidade do
horizonte.
Para trabalhar qualquer
satélite com uma antena linear (dipolo rígido etc...) começa apontando-a
para a zona por onde aparecerá o satélite sobre o horizonte. Em FM, uma vez que
o satélite está visível, o receptor começará a mostrar sinais, mas não emitas
todavia. Gira ligeiramente a antena para procurar a polaridade do sinal, logo
localiza o sinal movendo um pouco a antena para trás e frente. À medida que o
satélite se eleva, o sinal irá aumentando. Nos passos muito concorridos, a maior
actividade se centra sobretudo durante os primeiros minutos. À medida que o
satélite passa por cima, segue-lhe o trajecto procurando a maior força do sinal,
primeiro com a polaridade, logo com a posição. Quando está em cima de nós, o
AO27 tende a ter um sinal mais débil. Se o sinal baixa de repente, gira a antena
e aponta-a à zona por onde passa o satélite. O UO14 tem um desvanecimento
similar, mas são muito mais infrequentes e duram bastante menos.
Tabela 1- como controlar o efeito
de doppler ? |
SATÉLITE |
AO- 27 |
UO-14 |
MOMENTO |
transmitir
em |
receber em |
transmitir
em |
receber
em |
Ao começo da passagem |
145.850 |
436.805 |
145.975 |
435.080 |
3 minutos depois |
145.850 |
436.800 |
145.975 |
435.075 |
Zenith(máxima cobertura) |
145.850 |
436.795 |
145.975 |
435.070 |
1 minuto depois do zenith |
145.855 |
436.790 |
145.980 |
435.065 |
3 minutos depois |
145.855 |
436.785 |
145.980 |
435.060 |
TRABALHANDO SATÉLITES EM SSB
DESDE UMA ESTAÇÃO PORTÁTIL:
Os satélites de VHF e UHF de SSB
também podem ser trabalhados com uma estação portátil. Apesar de não existirem
portáteis bibanda com SSB, existem vários equipamentos que nos serão úteis. O Yaesu FT-847, o Kenwood
2000, o ICOM
821 ou oYaesu FT
817 são suficientemente pequenos para serem colocados numa maleta.
Também podes usar um equipamento de 28 Mhz e um transverter. Se o montas num
carro, usa um cabo apropriado com fusíveis para conectá-lo directamente à
bateria (não ao isqueiro). Se não usas um carro assegura-te de ir equipado
com uma bateria de 18 A/h, a ser possível das fechadas para não derramar
ácido para nenhum lado. Se usas uma emissora grande, seria interessante utilizar
um tripé ou mastro para por a antena. Trabalhar satélites em SSB é um
pouco mais difícil que os de FM. A frequência deve ser ajustada quase
continuamente devido ao efeito de doppler (ver tabela 1). Também será mais
difícil encontrar o sinal do satélite porque não há portadora de FM. Para
começar o passo é recomendável ter memorizado no equipamento a primeira
frequência de doppler (ver tabela 1). Apesar de que pôr a antena num tripé ou
mastro ajuda a ter livres as duas mãos, todavia necessitarás de ajustar a
antena. À medida que a passagem começa e termina, a antena pode estar na
mesma posição durante 2 ou 4 minutos. Na metade da passagem seguramente
necessitarás de mover a antena rapidamente para manter o sinal. Recorda
que é habitual perder o sinal do satélite quando esta justo sobre
ti.
INTERFERÊNCIAS:
Embora não seja obrigatório, sempre
será recomendável afastar-se das cidades e geradores de electricidade. Antes de
trabalhar uma passagem, há uma escuta rápida para comprovar que não há
interferências. Dos três tipos de interferências, as próprias geradas pelo
equipamento, intermodulações e harmónicos, as geradas pelo próprio equipamento
são as mais fáceis de entender. O principal amplificador do equipamento recebe
sinais não desejadas que podem interferir com os sinais de um satélite,
obviamente bastante mais débeis. Em 70 cms os maiores inimigos são as
frequências comerciais de 450 Mhz e o áudio de canais de TV. Em zonas onde se
pratica o ATV em UHF também podem gerar-se interferências. As intermodulações
podem vir de emissores perto ou de emissores a vários kms de distância. A
interferência de harmónicos proveniente de emissores perto ou frequências
reflectidas. Todos estes tipos de interferências são muito habituais nas grandes
cidades e nas zonas próximas dos emissores de rádio ou TV.
Para evitar a sobrecarga
do receptor podes tentar reduzir a interferência apontando a antena a outro
sítio ou usando um filtro. A empresa Par
Electronics fabrica um para 152 Mhz que é válido para as nossas
frequências, logo tens os filtros interdigitais (como este ou o descrito na pagina 6-1 e 6-2 do Manual de
projectos de UHF e Microondas publicado pela ARRL que tem uns
bloqueadores de interferências excelentes. Pese embora estes filtros ajudem
muito a evitar interferências também fazem com que o sinal do satélite seja mais
débil porque atenuam os sinais.
As interferências por
intermodulações são causadas por sobrecarga do receptor ou pela mistura de
outras duas fontes. Quando os sinais "f1" e "f2" se misturam, originam
harmónicos em f1-f2 e f1+f2. A maior parte das emissoras têm filtros
passabanda e um misturador para misturar o oscilador local e os sinais recebidos
com a finalidade de gerar a frequência intermédia (IF).
As interferências de harmónico
geralmente só se podem evitar no lugar de origem. Embora apontar a antena
a outro lado ajude, normalmente não reduz o problema o suficiente como para
trabalhar uma boa passagem do satélite. Por exemplo, se alguém emite em145.600
Mhz seguramente gerará o seu terceiro harmónico em 436.800 Mhz. A não ser que
digas ao colega que se cale enquanto dura a passagem, pouco mas poderá ser
feito.
Uma vez mais, a melhor forma de
evitar interferências é afastar-se o mais possível da fonte que a
origina...
CONCLUSÃO:
Há uma grande quantidade de formas e métodos
de desfrutar da operação via satélite desde uma estação portátil. Por isso
lembra-te: Afastas-te das interferências e das estações de muita
potência.
Nós ouvimos os "pássaros"
!!!!
Artigo original publicado na QST Março
2001, Por Charles Duey KIØAG
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